A necessidade do pensamento católico a longo prazo

A necessidade do pensamento católico a longo prazo
Photo by Josh Applegate / Unsplash

Depois de esbarrar em temas severamente polêmicos, como a herética missa nova e os absurdos movimentos carismáticos e da Teologia da Libertação, decidi refletir e fazer por um momento um artigo bem menos polêmico, porém, muito relevante para os católicos do atuais analisarem e verem a questão com mais atenção, que é a necessidade dum pensamento para longo prazo, e quando digo isso, digo de fato muito tempo, digo gerações e não décadas. Nunca vivemos um período tão apóstata, liberal e pérfido como o atual, portanto, como faremos algo visando o curto prazo se não temos o Estado ao nosso lado? Não temos nem o governo nem a mídia, que se comporta como um verdadeiro portão do Inferno, querendo levar o máximo de pessoas possível para a condenação. Para piorar, os sindicatos também não estão no nosso lado, a maioria esmagadora dos mesmos está se voltando para inclinações comunistas e materialistas, esquecendo plenamente de Deus, e pior, os que não fazem isso se comportam de maneira totalmente apática frente temas religiosos, diferente do que os percursores dos sindicatos, as corporações de ofício, fizeram, já que as mesmas funcionavam graças a ética cristã e obviamente fortaleciam a fé de seus membros devido a isso. Resumindo tudo que eu falei até agora, o mundo está contra nós (e não há nada de errado nisso, Cristo falou que seria assim mesmo), então como reverter as tendências extremamente mundanas atuais para uma sociedade onde o Reinado Social de Cristo de fato acontece?

O Sacerdócio

Tomada de Batina e Tonsura no Seminário S. Tomás de Aquino (FSSPX), em Dillwyn (EUA) – 2018

Antes de tudo, a primeira pergunta que um católico deve fazer (independente do seu sexo, moças também devem considerar o noviciado) é: "tenho vocação"? Caso a resposta seja positiva, deve procurar orientações com um padre da tradição (sim, nada de buscar conselhos com padres no modernismo, pouquíssimos lá ficam realmente felizes com potenciais vocações) e buscar orientações sobre o que fazer, as recomendações provavelmente serão muita oração e prudência, onde o mesmo sacerdote irá ordenar que você aguarde um tempo até que tenha mais discernimento e se é realmente um chamado de Deus. Também seria muito vantajoso a participação em retiros e outros eventos da sua igreja, inclusive se possível participar mais da rotina do padre, seja acolitando nas missas ou em outras atividades do cotidiano do sacerdote. Desde o Concílio Vaticano II as vocações estão vivendo um declínio vertiginoso, seja as religiosas ou as sacerdotais, por exemplo: A França perdeu 24.141 padres entre 1965 e 2004, saindo de 41.000 diocesanos para 16.859. Uma situação dessa além de triste é preocupante, pois o mundo sempre precisa de missas, juntando a diminuição do número de padres e a satânica reforma litúrgica de Paulo VI é possível constatar um número cada vez menor de missas de fato válidas e lícitas sendo rezadas pelo mundo, e afinal, como mudar a sociedade e trazê-la de volta ao catolicismo sem missa? É óbvio que devemos primeiramente trazer as missas de volta por meio de sacerdotes da tradição enérgicos para o combate, com uma boa formação e sem medo de enfrentar os erros do mundo. Além dos padres, devemos ressaltar também a necessidade dos religiosos, que vivem não só cuidando dos nossos bens espirituais (que são os mais importantes) rezando por nós como também os bens sociais, com as ordens medicantes no caso, sendo ambos algo que pode trazer grande estabilidade social, pois ora, obviamente Deus ouvirá muito bem as orações de alguém que se entregou completamente por Ele, como são os religiosos.

A família católica

São José e Nosso Senhor Jesus Cristo na carpintaria.

Caso a resposta da pergunta feita no ponto anterior tenha sido negativa, automaticamente o católico deve ter a consciência que deverá formar família (sim, essa bobagem MGTOW e solteirona no caso das mulheres não é nada católica), para isso, é necessário que ambos se qualifiquem bem, pois provavelmente ambos precisarão trabalhar dentro de sua capacidade e de acordo com a moral católica para poder sustentar a família, infelizmente o estado atual da modernidade exige fortemente que o casal trabalhe, não apenas o homem como era antigamente, isso deve ser ressaltado pois hoje em dia há muitos "gurus" católicos na internet que falam apenas para o homem trabalhar, ora, óbvio que isso é o ideal, mas como prosseguir se ele não tem condição de sustentar a família sozinho? Deixa o seu lar morrer de fome? Enfim, obviamente o ideal é que o homem consiga sustentar sua casa apenas com o seu trabalho, por isso é importante que o jovem atual estude bastante para se preparar ou para um concurso público ou para administrar uma empresa que tenha sucesso, de qualquer forma que garanta o sustento de sua família. Já no caso da moça, deve também estudar e buscar o máximo de qualificações possíveis, assim como um trabalho para experiência profissional, caso o contexto permita, após o casamento pode se dedicar apenas ao lar, cuidando da educação dos filhos para que de fato sejam católicos (e se Deus quiser que pelo menos um tenha vocação, já que em um bom lar estável e católico tem mais chance de florescer vocações). Enfim, para tudo isso ser possível, se faz extremamente necessário que o homem e a mulher católicos larguem todo esse idealismo vindo das redes sociais e essa tentativa irrealista de replicar a idade média nos temos atuais e aceite um seguinte fato: Estamos vivendo na modernidade, devemos buscar qualificações, se preparar para poder sustentar uma boa família e assim povoar a sociedade. Não se construirá sociedades católicas com a força do pensamento, e sim com a força da fé e do esforço dos católicos.

A impossibilidade de ação política atualmente

Brasília, capital do Brasil e lar dos mais repugnantes usurpadores do país.

Desde 1889 o Brasil perdeu sua forma ideal de governo, a monarquia, que apesar de contar com muitos defeitos como o liberalismo e uma tentativa exacerbada de controle da Igreja por meio do regime de padroado, em essência era o governo ideal para o Brasil, e se tornaria perfeito com a correção dos defeitos citados, como bem pontua Arlindo Veiga dos Santos. Para piorar, vários outros eventos abriram o caminho para a nossa situação atual, onde estamos com uma constituição liberal e totalmente contra os princípios da Igreja, um bom exemplo disso é a liberdade religiosa ser considerada um direito fundamental, como posto pelo artigo 5° inciso VI da Constituição Federal de 1988:

"VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias";

Ora, para nós, católicos da tradição, é óbvio que isso vai contra o magistério que a Igreja sempre seguiu (não o herético do Concílio Vaticano II), permitir sem nenhuma restrição o livre exercício de outros cultos religiosos é uma maneira de estimular o erro, pois a Verdade é uma só! Entrando brevemente em matérias jurídicas, não só a doutrina jurídica como a jurisprudência geral entende de maneira unânime a liberdade religiosa como um direito fundamental de acordo com a Constituição atual, indo mais fundo, vamos a Lei 9096 de 1995 em seu artigo 1°:

"Art. 1º O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal".

Como iremos adentrar na máquina pública se então isso implicaria defender princípios heréticos como os citados anteriormente? É simplesmente impossível! Não é de maneira alguma cabível a criação dum partido católico como alguns irmãos propõem para tentar lutar contra o sistema dentro do mesmo. Pode ser possível a entrada de católicos na política em partidos comuns, mas tudo isso deve ser feito com muita prudência e cuidado, buscando orientações com um sacerdote primeiramente e tomando bastante cautela com a podridão atual existente.

Como resolver isso?

São Tomás More: Pai, político e acima disso tudo, católico santificado.

Uma vez meu padrinho me disse uma frase que não pude esquecer, mantive na minha cabeça e meditei muito nela: "se os católicos dos tempos do Império Romano pensassem como os católicos de hoje, não haveria mais católicos hoje". Essa frase fala perfeitamente sobre o momento que vivemos atualmente, temos vários católicos falando sobre "realizar cruzadas", sejam elas políticas, se arriscando no Estado como já citei anteriormente, ou mais bizarramente, militares, querendo retornar a Terra Santa, precisamos urgentemente de um exame de consciência, saber da nossa condição, de nossa consciência, do que podemos fazer agora e principalmente refletir se estamos fazendo para a maior glória de Deus ou pra nossa glória pessoal, a primeira é extraordinariamente infinita, e a segunda é insignificante. Coloquei São Tomás More no início desse ponto pois esse santo sabia exatamente o que fazer de acordo com o que podia realizar, resistiu politicamente contra a heresia de Henrique VIII, inclusive sendo martirizado por isso, e anterior a isso, formou uma família numerosa e alicerçada sobre os princípios católicos, algo que conseguiu graças ao seu esforço profissional (lembrar do 2° ponto discorrido nesse artigo, sobre a família católica). É dessa noção que os católicos atuais precisam ter, devemos lutar contra o sistema na medida que for possível com nossas forças, por exemplo recusar um trabalho escandaloso na faculdade, enquanto luta para ter condições de sustentar uma família no futuro ou enquanto almeja a possibilidade de seguir sua vocação, e não devaneando com sonhos políticos em nossa geração atual, a mesma está perdida, cabe a nós preparar as bases para as próximas gerações terem chance de realizar uma mudança. Enfim, os pontos anteriores sobre o sacerdócio e sobre a família católica não foram ao acaso, e sim para o leitor saber que assim que será possível uma verdadeira mudança sobre o sistema, mesmo que para isso sejamos mártires, não de sangue, mas de reputação e de orgulho, pois a primeira será trucidada ao expressarmos o que é nossa fé de fato publicamente e o segundo será destruído ao percebermos que não podemos fazer tudo na nossa geração atual. Concluindo, para resolver todo o pandemônio da sociedade moderna, que é um problema que foi construído depois de gerações e gerações de destilação de veneno desde 1517 (reforma protestante), serão necessárias mais gerações, essas com o objetivo de reconstruir tudo que os liberais destruíram.

Oração pelas vocações

Espírito Santo

Como já se tornou tradição aqui no Núcleo Dom Antônio, faremos uma oração no final do artigo, contudo, como mencionado anteriormente, o mundo está infelizmente hoje numa escassez imensa de sacerdotes, e se quisermos reformar alguma coisa na sociedade atual, precisamos deles para cuidar de nossa vida espiritual, discernir o certo e errado e também admoestarem nossa vida moral (lembrem-se, sacerdote não é só pra sacramentos, ele também é para corrigir os erros de nossa vida como um todo, devemos aceitar seus conselhos e não podemos de hipótese alguma tirar a influência dos padres na nossas vidas, isso seria igualarmos aos modernistas). Enfim, desejo fazer algo diferente, proponho a cruzada pelas vocações que foi proposta inicialmente pela Fraternidade Sacerdotal São Pio X, para isso basicamente faça o seguinte:

  • Rezar cada dia, pelo menos por um ano, uma dezena do terço por esta intenção (pode ser uma dezena do terço diário).
  • Adicionar ao fim das orações da manhã e da noite as seguintes invocações:
  • “Senhor, dai-nos sacerdotes”
  • “Senhor, dai-nos santos sacerdotes”
  • “Senhor, dai-nos muitos santos sacerdotes”
  • “Senhor, dai-nos muitas santas vocações religiosas”
  • “São Pio X, rogai por nós”

Enfim, agradeço a leitura de cada um que chegou até o final, que Deus os abençoe imensamente e que Nossa Senhora os acolhe em seu manto.


Leitura complementar:

Santo Ambrósio, imagem ilustrativa.
Cruzada pelas vocações
Queridos fiéis: Lançamos uma cruzada de oração pelas vocações sacerdotais e religiosas. Conto com a participação de todos.