Agronegócio e o futuro

Autoria de Luís Henrique Nunes França.
O Brasil é realmente tão importante assim?
Muito se discute entre o meio geopolítico sobre como o agronegócio mantém o Brasil integrado, que 1.5 bilhão de pessoas dependem dos grãos que saem do porto de Santos, que ele será a ponte para o futuro e se tornou uma garantia da existência do país. Mas será mesmo?
O Brasil, desde o início da colonização portuguesa, é uma potência agrícola. Desde esse tempo, as potências atlantistas, com destaque para os europeus, veem com maus olhos o poder que este ramo tem no Brasil. O agronegócio brasileiro foi muito ferido pelo passar dos séculos, com destaque para o fim do ciclo da cana, marcado pelo roubo do mercado pelos Holandeses, que começaram a cultivar a cana nas Antilhas Caribenhas, destaque também para o fim do ciclo da borracha, dado o roubo das seringueiras por exploradores ingleses que investiram no plantio na região da Malásia.
Hoje, mais uma vez, perto de repetir a história pela terceira vez, o agronegócio está perto de sofrer outro conflito de interesses, uma vez pelos europeus e agora pelos norte-americanos. Para evitar um futuro catastrófico, vale relembrar o porquê de tantas vezes agro ter sido passado para trás.
Em nossa história, o ciclo da cana-de-açúcar, da borracha, do cacau e de outras monoculturas mais localizadas, o agronegócio sempre desempenhou um papel nas engrenagens econômicas do país, porém, o desenvolvimento econômico trouxe por consequência o poder político.
O Brasil é um país nascido das casas grandes, do engenho da cana e da senzala, seja para o bem ou para o mal, os grandes agroprodutores sempre tiveram poder político regional e federal, sendo a República do café-com-leite o exemplo mais claro deste poder.
Poder político esse, que em muitos casos, ia contra os interesses políticos externos, sendo ele estrangeiro ou não. As oligarquias locais, nascidas do agro, tendem a defender seus interesses próprios, sendo aversos as forças que possam interferir de alguma forma em seu contínuo poder.
Dessas rixas, interesses políticos, disputas eleitorais e diplomáticas, conflitos de interesses, guerras, todos estes aspectos já confrontaram a produção agropecuária no país. Dessa injusta disputa, muitas vezes o agronegócio saiu derrotado, O fim da produção de cacau na Bahia por resultado de interferências políticas é apenas um exemplo que escancara a crise que viveu este setor.
Desde o início do regime militar, o agronegócio brasileiro vem sofrendo alterações que o emplacaram como o líder mundial na produção de grãos e carne, encabeçado principalmente pela Embrapa, empresa criada pelos militares para ser o braço científico do setor agropecuário. Graças a ela ocorreu a abertura do bioma do Cerrado e da Amazônia, junto das terras baratas do Mato Grosso e Goiás, houve uma explosão da produção de grãos no sul do Pará, Goiás, Leste da Bahia e Mato Grosso.
Ao fim do governo militar, sucessivos líderes liberais imbecilizados governaram o início da nova República. Enquanto Collor e FHC matavam o setor industrial com a destruição das leis de proteção à indústria e o real lastrado no dólar, o agronegócio continuou em uma vertiginosa escalada, chegando ao seu auge no governo Lula, que se beneficiou do auge da produção chinesa no boom das commodities.
Enquanto os preços de produtos de origem do campo encareceram a cada ano desde o início do plano real, os lucros dos produtores apenas aumentaram conforme o real foi se desvalorizando. Este efeito foi causado primariamente pelo aumento das exportações para países emergentes como China e Índia e o aumento do consumo de grãos na dieta “millenial” dos países ocidentais.
Com a entrada de Jair Messias Bolsonaro à presidência, o agro viveu outro aumento vertiginoso crescimento, batendo em 2020, um aumento de 30% na produção agrícola de quase todas as monoculturas produzidas, porém nesse mesmo ano o agronegócio que crescia em ritmo acelerado, viu a venda de carne bovina cair vertiginosamente. Por acusação de ocorrência da doença da vaca louca na carne brasileira, os chineses cortaram a compra da carne, gerando um prejuízo de 1.8 bilhão de dólares para os pecuaristas brasileiros.
Esse alerta atiçou nos grandes produtores e nas grandes cooperativas uma questão sobre o mercado internacional. Como é dito sobre os esportes, quem define o vencedor é o juiz, caberia ao agronegócio brasileiro se curvar às políticas internacionais e se adequar para continuar o prospecto de vendas?
Para responder essa pergunta, é preciso analisar quais são as figuras influentes no meio e a tese que ronda essas pessoas. Os especialistas, as pessoas que estão baseadas na parte teórica do agronegócio, pretendem se curvar às regras ambientais aplicadas nacionalmente e internacionalmente, vide que, desde de 2022, não só a União Europeia e Estados Unidos, mas também a China, vem implantacando normas na compra de produtos do agro, preferindo aqueles que são ecologicamente corretos. Traduzindo, o agronegócio brasileiro não está mostrando respostas duras a mais novas e mais duras ofertas que estão recebendo.
Mas isso não é novo. Não é de hoje que os grandes barões agrícolas veem o mundo cosmopolita com bons olhos, tem-se de exemplo a "belle époque" paulista, construída como uma cópia do padrão francês, renegando a arquitetura barroca própria do Brasil.
Relembrando o caso Paulista, os agricultores paulistas mostraram ao mundo o "viralatismo" característico das classes mais abastadas do Brasil. Encabeçados pelo cosmopolitismo, os grandes produtores paulistas usaram os abastados lucros da cultura do café para patrocinar seus luxuosos hobbies, copiando o estilo de vida europeu.

A menção deste caso não foi sem motivo, o caso do cafeicultor Paulista é um molde do que veio acontecer com o atual agronegócio brasileiro. Enquanto o cafeicultor Paulista do início do século XX se transvestiu de europeu, o agricultor brasileiro atual se transvestiu de americano. As roupas, a linguagem, a produção, o estilo de produção e o retrato para o externo, o agro, assim como tudo no Brasil, se americanizou, preferindo receber em dólar, preferindo agradar aos olhos azuis, vermelhos e brancos em vez do verde e amarelo
Hoje, nos tempos em que todo grande agricultor depende do crédito rural, é natural que os olhos se voltem ao mercado internacional.
Após a União Europeia ter passado leis no final de 2019 da diligência devida (due diligence), regulando a compra de alimentos do exterior, proibindo a compra de produtos vindos de áreas desmatadas e/ou degradadas. Leis que desempenharam papel crucial na regulamentação da produção agricola do futuro, demonstrando onde os líderes do mundo querem que esteja o agronegócio brasileiro.
A cada dia que passa o agronegócio brasileiro passa a ser empurrado ao ESG, (forma de administração de empresas ecologicamente sustentável e diverso em minorias, simplificando, trazendo a improdutividade total) pelas potências americanas e europeias e a cada dia que se passa o setor brasileiro é sobretaxado pela União Europeia e EUA, forçando os produtores brasileiros a se encaixarem nos moldes estabelecidos.
Pode parecer redundante, mas vale salientar o porquê das potências estrangeiras tanto martelaram o agronegócio brasileiro que mantém a saúde alimentar dessas nações.
A mão de ferro visível da política esmaga a mão invisível do mercado.
Antes do Brasil se tornar uma grande potência agrícola, os maiores no ramo do agronegócio eram os EUA, que até hoje se mostra um grande produtor. Os agroprodutores americanos não ficam satisfeitos ao ver o Brasil ultrapassando os americanos na produção de soja ou milho, aumentando a oferta de grãos no mercado, diminuindo os preços e acabando com o, antes, monopólio americano.
Esses mesmos agroprodutores que tem representantes no senado e nas cadeiras da política americana prontos para defenderem seus interesses, a exemplo disso há as guerras das bananas, guerras travadas por conflitos relativos à produção de bananas em países da América Central.
Vendo isso é válido ver a resposta que o agroprodutor brasileiro dá a essas acusações. Diversas são as palestras de agroprodutores sobre esse assunto, eles não se importam se a Amazônia está sobre posse americana, francesa ou brasileira. Eles não se importam se as acusações feitas ao meio ambiente no Brasil são falsas ou não, se os indígenas são usados como massa de manobra, eles não se importam.
Enquanto o agronegócio brasileiro vê os predadores do Norte apenas se aproximando a passos largos de sua presa, outros países já buscam se abster do monopólio da compra de produtos do campo brasileiro.
Hoje, a China vem produzindo infraestrutura a preços baixíssimos em diversos países africanos, destaque para países mais estáveis como Angola, Moçambique, Tanzânia, Nigéria e Camarões, criando mecanismos diversos para a produção em países africanos.

O agroprodutor brasileiro quer duas coisas: empréstimos de bancos e lucro, somente.
No ano de 2022 a União Europeia passou leis (Common Agricultural Policy – CAP) que restringem a compra de produtos agrícolas, subsidiando os produtores que seguirem as regras de preservação ambiental perfeitamente, pagando os bons euros. Dificilmente um produtor brasileiro negaria receber milhares de Euros em um país cuja moeda vale 5 a 6 vezes mais que a moeda corrente do país.

Muito se vê nas mídias sociais os agroprodutores temendo a entrada do presidente recém-eleito, Lula, no poder, porém, a preocupação se dá muito mais pelos seus próprios negócios do que por qualquer peso moral.
Para se encaixar nas exigências dos Bancos, os grandes produtores devem e vão fazer de tudo, já que hoje todo produtor agropecuário depende do crédito agrícola.
Acompanhando os líderes de Nova Iorque, os bancos nacionais, estatais ou não, seguem nessa cartilha.
Encabeçado pelo Banco Central, o Governo Brasileiro criou o programa ABC, que vincula a preservação ambiental ao crédito rural. A arma já foi apontada e o dedo já está no gatilho.
Sabendo das políticas que os grandes bancos tendem a seguir, é visível que o grande agroprodutor brasileiro seguirá as ordens dadas pelos seus líderes da Suíça sem pestanejar.
Assim como os esportes de apresentação são definidos pelos juízes que julgam, o agronegócio brasileiro é definido por quem compra seus produtos. O mercado internacional implica regras que visam diminuir ao máximo a produção agropecuária brasileira.
As potências internacionais tem planos para o Brasil e para o restante do mundo, plano esse que depende do fim do agronegócio brasileiro, até mesmo do mundo vide os sucessivos protestos de agroprodutores espalhados pelo mundo ocidental, a exemplo dos fazendeiros Holandeses e Alemães.
O agro enriquece e desenvolve, analisando o potencial de solos, de pessoal capacitado, das fronteiras agrícolas a serem abertas e o clima sempre quente propício ao plantio, esse potencial a ser explorado assusta e vai contra os líderes mundiais e sua velha política de empobrecer as nações subdesenvolvidas.
É difícil dizer exatamente qual é o principal motivo para o agronegócio, em específico o brasileiro, ser tão atacado. Não há apenas um único motivo e nem muito menos um único agente, são um conjunto deles, que de uma forma ou de outra visa um único objetivo: o fim do agronegócio que cresce, que investe, que se atualiza, tecnologicamente avançado.
Por enquanto, o agro não irá desaparecer, não parece ser esse o plano para os próximos anos, mas sim estrangulá-lo, usar regras ambientais que apenas se aplica ao Brasil e não aos chineses, americanos e europeus; estão domando e empurrando o agro para onde eles querem que fique.
Então, não, o agronegócio brasileiro não garante a soberania nacional, países como a China já perceberam isso e estão buscando criar novos produtores.
Assim como a produção de cacau na Bahia zerou por pura politicagem, o agronegócio brasileiro não está muito longe de se integrar às ESG's e deixar ser morto por pura especulação.
O futuro do agronegócio brasileiro foi definido no dia que o presidente eleito "democraticamente" pelas urnas fiscalizadas pelo Centro de Inteligência Americano disse em entrevista ao Jornal Nacional, dia 25 de agosto, 2 meses antes dos resultados finais da eleição: “O agronegócio sabe que é fascista e direitista [é contra o meio ambiente]
