Como a insegurança moldou a arquitetura do Brasil

Como a insegurança moldou a arquitetura do Brasil

Autoria de Luís Henrique Nunes França.

Hoje, ao andar pelas ruas de boa parte das cidades brasileiras, é visível a repetição de fatores: muros altos, portões fechados e arame na borda.

O efeito se tornou mais aparente a partir da década de 90, enquanto as novas cidades começaram a crescer, principalmente, se favelizar.

Conforme os donos de antigas residências morriam, essas casas foram sendo reformadas ou vendidas para outras pessoas, que alteravam a composição das mesmas, com a constante insegurança mais os muros cresciam e mais grades, arames, alarmes, câmeras foram sendo adicionados, sem contar é claro, os novos projetos de casas construídas do 0.

O porquê dessa situação se torna claro ao ver os gráficos da subida do crime organizado da década de 80 até a o fim da década de 2010.

Quanto mais o crime espalhava seus tentáculos, mais grades foram postas nas janelas, mais os pequenos portões de grade foram trocados por grandes muros de ferro e mais distante foram ficando as pessoas.

As praças foram tomadas, os parquinhos abandonados, as tradições revogadas e o medo se alastrou. Hoje os pais evitam abrir suas portas para seus filhos brincarem na rua, menos as pessoas conversam nas portas de casa, menos abrem suas janelas para a rua e vem o movimento, cultura essa isolada nos mais velhos. Menos se visita um conhecido, amigo ou parente, cada dia que passa as pessoas se isolam mais em suas casas, deixando as ruas vagas para que o novo Estado cresça e tome as cidades, o aumenta da criminalidade é uma das causas desse processo, mas não se reduz somente ao mesmo, a anomia social causada pela modernidade e o hedonismo total também são grandes agentes deste problema. As praças hoje são habitadas em sua maioria por drogados, mendigos e jovens que querem usar algum entorpecente.

O medo é tanto que mesmo em certos condomínios de classe média é possível ver muros altos, mesmo que nesses lugares os programas familiares, levar o filho ao parquinho, reunir a família na frente de casa, conversar na porta de casa, crianças brincarem na rua, ainda sejam comuns. Mesmo assim, o lazer se tornou algo elitizado, o poder público cada vez mais abandona suas praças e centros recreativos públicos e mais as pessoas buscam morar em condomínios fechados.

Consequência dessa situação: as cidades brasileiras mais se padronizam, mais se empobrecem artisticamente, mais se destrói a arquitetura que foi construída por séculos no Brasil.

O espírito positivista reina no campo arquitetônico, o minimalismo prático e econômico guiam os projetos, e a beleza transcendente da arte são descartadas como se não tivessem nenhum valor, as cidades então ficam mais cinzas, mais padronizadas, menos vivas e mais tristes, e com isso, o sentimento de anomia só se alastra, principalmente entre os mais jovens.

Nessa mistura de fatores, a sociedade brasileira, nascida dos valores latinos e católicos, vai se tornando uma cópia mal feita da moderna sociedade anglo-saxã e protestante, mais isolada, mais elitizada, mais fria e mais positivista.