O falso tradicionalismo e o verdadeiro nacionalismo católico
O que é o verdadeiro tradicionalismo católico? Quais figuras devem ser repudiadas e nunca divulgadas por católicos? Yukio Mishima pode ser lido e endossado por católicos apenas por ser "tradicionalista"? As respostas estarão no artigo

Muitos ditos tradicionalistas católicos acabam por defender, promover e se espelhar em ideias e movimentos pela única razão de defenderem algum aspecto "tradicional" de seus respectivos países e culturas, sem se atentar para o fato de que nem toda tradição é correta, alinhada à lei natural e passível de se defender, principalmente aquelas que cruzam o campo religioso e notoriamente defendem pontos totalmente anti católicos. Existem alguns casos um pouco mais problemáticos, onde ditos tradicionalistas católicos por muitas vezes endossam e se debruçam na leitura e estudo de homens profundamente anti católicos, perenialistas, gnósticos e etc, como Evola, Guénon, Schuon e por aí vai. Neste artigo o foco será num destes homens, que defendeu em vida aspectos e "valores" "tradicionais" do seu país e da sua cultura, mas que são indefensáveis para um católico, e suas obras e textos são perigosos para a fé e para o correto entendimento daquilo que é Tradição, lei natural, deveres e objetivos de um justo homem.
Yukio Mishima, homossexual e controverso

Mishima é uma figura extremamente problemática, não só por sua defesa do suicídio ritualizado japonês, o chamado seppuku (pode ser chamado de harakiri, alguns afirmam que as duas palavras representam o mesmo ato, outros que o harakiri é o suicídio solitário, quando não há outro indivíduo que posso auxiliar no ritual), mas pelo seu homossexualismo também, nos seus textos é visível todo o teor erótico e sexual e de culto à estética e ao corpo, mais do que isso, alguns romances escritos por ele tem como protagonistas figuras homossexuais claras, pior, muitos sustentam a ideia de que esses romances são parcialmente auto-biografias, ou seja, esses personagens na verdade representam eventos e estágios da vida do próprio Mishima, em alguns casos esse paralelo com o autor é extremamente claro.
Vejamos alguns trechos de poemas exaltando o suicídio:
Morrer, de Yukio Mishima
Morrer. Morrer no embalo suicida. Morrer combatendo, a única morte de um guerreiro.
Morrer pelo fio da navalha do sabre em uma morte ritualística.
Morrer sabendo que morrer não é mais do que melhorar o último instante.
Morrer de cavalos fugitivos, de ideogramas na testa, de seppuku ao amanhecer.
Morrer com honra para o aço imponente, decapitado pelo camarada mais amado.
Claras alusões ao suicídio, totalmente condenável partindo da moral católica.
Texto de Yukio Mishima sobre a morte de James Dean, ator estadunidense cuja vida é cercada de rumores sobre sua bissexualidade ou "pansexualidade":
A mitologia grega diz como Áquiles foi forçado a escolher entre uma longa vida sem glória ou uma morte gloriosa em sua juventude. Sem hesitar, ele escolheu morrer jovem e belo. Certamente todos, até o mais prosaico dos homens, escolheria o mesmo se pudesse.
Há um grande falatório em torno da morte de Dean, se fora um acidente ou não. Acho que podemos concordar que ninguém que não esteja sonhando com a morte seria capaz de atravessar todos os faróis vermelhos em alta velocidade rumo à uma corrida de rua. Para citar a frase de Hugo von Hofmannsthal sobre a morte de Oscar Wilde, “É errado reduzir tudo ao mero acaso”. Estou certo que Dean foi guiado para algo além da mera vida, algo que estava predestinado. Sua trágica morte foi sua vitória consumada.
As habilidades de um ator de vinte e poucos anos nunca são muito citadas nem creditadas, e o rosto de Dean, embora bonito, não está no mesmo nível de Adônis ou Antínoo. Mas havia nele uma sensibilidade singular, trejeitos e expressões que sintetizavam seu estado de espírito, uma sedução mística quase demoníaca, a pose de uma juventude impassível, um certo desdém em seus ombros, e um sorriso obscuro. Se a morte tivesse esperado mais, tudo isso teria desaparecido, pois Dean era um ator, no limiar do público e do tempo. Poderíamos mesmo esperar pelo passar dos anos, pelo seu amadurecimento como ator e homem? A única promessa restante seria de que ele seria mais dócil.
É latente a defesa de uma morte precoce com o objetivo de "eternizar" a beleza da flor da idade, cogitando inclusive o próprio suicídio, ademais, as palavras utilizadas por Mishima demonstram um interesse erótico e sexual em Dean, basta dizer que James Dean foi acusado de ter mantido relações amorosas com outros homens, incluindo seu primeiro biógrafo, que já havia confirmado isso publicamente. É possível notar também a glorificação da morte como um fim em si mesma, com o único objetivo da glória e de manter sua beleza estética para sempre. Essas posições, tão latentes nas obras de Mishima são absolutamente condenáveis pela moral católica, Mishima desprezava a castidade e a modéstia, tinha um claro culto ao corpo, especialmente ao corpo masculino, e era evidentemente um homossexual.
Mishima possui muitas fotos se portando de maneira sexualizada e imodesta, afinal, como dito tantas vezes, ele cultua o erotismo e o corpo masculino em quase todas as suas obras.

Em algumas obras, ele confessa o seu fetichismo pelo corpo, mais especialmente na obra Sol e Aço, vejamos:
O natural corolário de tal tendência é de que devo abertamente admitir a existência da realidade e do corpo somente em campos em que não há parte alguma disso; desta forma a realidade e o corpo se tornaram sinônimos para mim, quase que objetos de um certo fetichismo. Sem dúvidas inconscientemente expandi meus interesses para isso também; e esse tipo de fetichismo corresponde exatamente ao meu antigo fetichismo pelas palavras.
Em outros momentos se compara a figura de um deus, pela sua capacidade:
Assim, em minha mente, sem perceber o que estava por realizar, isolei estes dois elementos contraditórios e, como um deus, comecei a manipulá-los. Foi assim que comecei a escrever romances. E assim aumentou ainda mais minha sede pela realidade e pela carne.
Aqui fala do processo de adquirir conhecimento através dos exercícios físicos e o compara com o processo de adquirir conhecimento erótico:
Uma vez alcançado este grau, entendi todo tipo de coisa até então oculta a mim. O exercício dos músculos elucidou os mistérios que as palavras criaram. Similar ao processo de adquirir conhecimento erótico. Pouco a pouco, comecei a entender o sentimento por trás da existência e da ação.
Aqui ele fala do problema da objetificação da beleza do homem, mas que possui a exceção se combinada com a morte heroica, especialmente aquela feita no embalo suicida, já que mescla o "heroismo" com o ultra erotismo, termo que ele mesmo emprega:
Por que o homem deve ser associado à beleza apenas através de uma heroica e violenta morte? Na vida ordinária, a sociedade mantém uma cuidadosa vigilância para garantir que os homens não tomem interesse pelo belo; a beleza física masculina, quando considerada um “objeto” em si mesmo, sem qualquer agente intermediário, é desprezada, e a profissão do ator — que envolve constantemente ser “visto” — não possui o respeito que merece. Uma regra rígida é posta no interesse do homem. É esta: um homem deve sob circunstâncias normais jamais permitir sua objetificação; somente através de uma ação suprema pode vir a ser objetificado — ao qual é, suponho, sua morte, o momento fatal em que, mesmo sem perceber, a ficção de ser visto e a beleza do objeto são permitidos. Nisto reside a beleza dos kamikaze, ao qual são reconhecidos não apenas como belos no sentido espiritual, mas também, pelos homens em geral, no sentido ultra erótico. Servir de agente neste caso é de uma intensidade heroica além da capacidade comum, sendo, portanto, tal “objetificação” quase impossível.
Aqui, ele fala da sua obssessão com a morte:
Ter a morte em mente dia após dia, focar cada momento na morte inevitável, ter certeza de que os piores pressentimentos coincidem com os sonhos de glória… se isso era tudo, então era o suficiente para transferir o mundo da carne ao qual eu fazia parte para o mundo do espírito.
Veja, para nós católicos a morte sempre precisa estar no nosso horizonte, como bem posto na expressão "Memento Mori", que inclusive tem origem católica, mas o que vemos em Mishima é uma obssessão absurda e latente, a todo momento ele deseja uma morte gloriosa, novamente como um fim em si mesma, mas isso NUNCA pode ser o horizonte de um católico, o martírio e a morte em combate são consequências na luta pela Verdade, não objetivos.
Ainda há um problema maior em Mishima, especialmente no seu livro "Confissões de uma Máscara", provavelmente um relato auto biográfico, onde o protagonista é um homossexual, não somente isso, ele relata desejo sexual por um santo, São Sebastião, inclusive fez fotos representando São Sebastião que não acho correto mostrar aqui, já adianto que os trechos são repugnantes, vejamos:
Comecei virando uma página no fim de um volume. De repente, num canto da página seguinte, topei com uma figura que eu tinha que acreditar estivera ali à minha espera, por minha causa. Era uma reprodução do São Sebastião de Guido Reni, que faz parte do acervo do Palazzo Rosso, em Gênova. O tronco negro e levemente oblíquo da árvore da execução era visto contra um fundo à Ticiano, de floresta lúgubre e céu noturno, sombrio e distante. Um jovem excepcionalmente bonito estava amarrado nu ao tronco da árvore. Tinha as mãos cruzadas levantadas, e as correias que atavam seus pulsos estavam amarradas à árvore. Não havia outras amarras visíveis, e a única coisa que cobria a nudez do jovem era um grosseiro pano branco, passado frouxamente em torno de seus rins.
Supus que fosse a pintura de um martírio cristão. Mas como fora pintado por um pintor esteta da eclética escola que se derivara da Renascença, mesmo essa pintura da morte de um santo cristão tinha em torno de si um forte sabor de paganismo. O corpo do jovem — devia até ser semelhante ao de Antínoo, amante de Adriano, cuja beleza foi tão frequentemente imortalizada pela escultura — não mostrava nenhum vestígio da privação missionária ou da decrepitude que se encontram em pinturas de outros santos; em vez disso havia apenas a primavera da juventude, apenas luz, beleza e prazer.
Não bastasse isso, há um relato de masturbação para o santo, é um escândalo, mas realmente é necessário se fazer menção ao ato blasfemo, peço que caso se sintam incomodados não prossigam com a leitura dos seguintes trechos, vejamos:
Naquele dia, no momento em que olhei para a figura, todo o meu ser estremeceu com uma alegria pagã. Meu sangue ferveu; meus rins dilataramse como que em fúria. A parte monstruosa de mim que estava a ponto de explodir despertou com ardor sem precedente, censurando-me pela minha ignorância, palpitando indignadamente. Minhas mãos, completamente sem consciência, iniciaram um movimento que nunca tinham sido ensinadas a fazer. Senti alguma coisa secreta, radiante, subindo de dentro de mim, velozmente, rumo ao ataque. Subitamente jorrou, trazendo consigo uma embriaguez ofuscante...
Passou-se algum tempo e então, sentindo-me péssimo, olhei em torno sobre a escrivaninha que tinha à minha frente. Um bordo à janela lançava um reflexo brilhante sobre todas as coisas — sobre o tinteiro, meus livros e cadernos escolares, o dicionário, a figura de São Sebastião. Havia sal- picos de um branco fosco por toda parte — no título impresso a ouro de um livro de textos, numa saliência do tinteiro, numa quina do dicionário. Alguns objetos gotejavam preguiçosamente, outros cintilavam tristemente, como os olhos de um peixe morto. Felizmente, um movimento reflexo da minha mão protegera a figura, evitando que o livro se sujasse
Mishima cometeu seppuku numa tentativa de golpe fracassada em 25 de novembro de 1970, depois de não receber atenção e adesão ao golpe por militares presentes num discurso realizado no quartel das Forças de Autodefesa japonesas em Tóquio, depois de ter rendido o comandante do quartel em questão. Estava acompanhado de outros membros do Tatenokai, organização nacionalista fundada por ele. No ato do seppuku, Masakatsu Morita, dito seu amante, falhou em auxiliar no suicídio, sendo então substituído por Hiroyasu Koga.

É notório que NENHUM católico ou grupo católico deve promover as obras deste blasfemador, suicida e homossexual, o tradicionalismo de Mishima é absolutamente falso e deve ser descartado.
Verdadeiros católicos japoneses

São muitos os exemplos de japoneses verdadeiramente alinhados com a Tradição, católicos fervorosos que foram submetidos ao martírio, não somente civis e sacerdotes como na ocasião dos 26 mártires de Nagasaki, mas também de guerreiros, samurais, que combateram e tombaram por Cristo e pela verdade, não em suicídios ritualísticos e não defendendo mentiras e blasfêmias.

Exemplos claros de samurais católicos podem ser visualizados na Rebelião de Shimabara e no clã Otomo, este clã que aceitava missionários católicos nas suas terras, tendo inclusive convertido um daimyo (um título de nobreza semelhante à um senhor de terras feudais) do mesmo clã, de nome Ōtomo Sōrin.


Como dito, alguns samurais se converteram ao catolicismo, empunhavam suas katanas com cruzes entalhadas nas suas tsubas (guarda da espada) e morreram por Cristo, o evento envolvendo samurais católicos de maior destaque é a Rebelião Shimabara.


A Rebelião se deu por conta do aumento de impostos na região e da repressão ao cristianismo, já que a região era historicamente católica, muitos ronins, camponeses e samurais engajaram na luta, esse evento será abordado num artigo posterior, mas faz se importante citar o maior dos líderes da revolta, Amakusa Shirō, um jovem samurai, que liderou a revolta com 16 anos e aos 17 anos foi decapitado após a derrota dos insurgentes em Shimabara, sua cabeça foi exposta num pique em Nagasaki, como alerta para que não houvessem outras rebeliões católicas.

Outra figura muito importante para o catolicismo japonês foi Dom Justo Ukon Takayama, daimyo de grande honra, chamado de samurai de Cristo, foi batizado em 1564, com 12 anos, posteriormente deixou sua fé de lado, até os 20 anos, quando realizando o ritual de maioridade passou a exercer sua fé com fervor, devido a grande devoção abdicou de todos os seus títulos e status para se dedicar a fé, foi exilado em Manila e viveu com grande dedicação à Cristo, dois meses depois veio a falecer.

Esses são os exemplos de japoneses que devemos seguir, endossar e divulgar.
Oração aos 26 mártires de Nagasaki

Senhor, nosso Deus,
pela infinita caridade do Coração do Vosso Filho,
concedei-nos que, com fé profunda e amor ardente,
imitemos os exemplos dos Mártires do Japão:
ouvi as súplicas que, confiadamente, vos dirigimos,
e, para glória Vossa e exaltação das heróicas virtudes
de Mártires tão ilustres,
concedei-nos a graça da sua canonização.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo. Ámen
Artigos para ler em seguida: https://nucleodomantonio.org/dolfuss-e-a-austria-um-exemplo-de-lideranca-e-nacionalismo-catolico/
Fontes
Detalhes sobre a katana com entalhes católicos: https://www.katanacenter.com/1 CHRISTIAN KATANA page.html
Todos as obras de Mishima citadas ao longo do texto