Pode um católico ser nacionalista?

Há uma questão complexa no movimento católico, justamente a pergunta que estimula esse artigo, se levantam discussões concernentes à moralidade de um católico em frente a dois problemas centrais: o crescimento desmedido da figura estatal através de uma burocracia técnica e ao mesmo tempo, um certo espírito globalizante de integração entre as nações através de um órgão centralizador mundial, e esses dois problemas coexistem, visto que já há uma burocracia internacional que comanda a política, em especial na Europa, portanto, se torna cada vez mais difícil falarmos que a Alemanha e a França são dois estados nacionais, visto o grande poder que o parlamento europeu ganhou nesses 70 anos de existência. Mas sem divagar o leitor, queremos levar essa discussão a um plano central: qual a melhor disposição de militância católica nesses casos, ou em casos similares? Veremos de uma forma um pouco mais sucinta e particular e porque nós membros da Legião somos nacionalistas e católicos ao mesmo tempo.
Certamente o movimento católico -ao menos no Brasil- pode ser dividido entre antinacionais, que possuem um pensamento de uma sociedade política descentralizada politicamente e administrativamente, e os católicos nacionais, (os ditos integrais) que obedecem de forma estrita a formação de instituições nacionais e orgânica-corporativas para a manutenção da política nacional. Ambos têm coisas em comuns, são veementemente contrários ao totalitarismo socio-liberal ou algum tipo de influência fascista ou socialista. Podemos usar Maurras (tirando todos os seus problemas, lógico), como exemplo em uma breve afirmação do eruditiíssimo Jugnet:
Teremos pois o liberal de direita, que persegue os comunistas e deixa em paz o fascismo, e o liberal de esquerda, já conquistado pelo “sentido da história”, e que é todo severidades para as pessoas de direita, enquanto deixa o comunismo graçar por todo lado. Não é o caso de dizer que Maurras seja totalitário, longe disso: ele defende a monarquia tradicional, na medida em que lhe parece um regime de equilíbrio, evitando por sua vez a tirania cesarista e a anarquia liberal.
Podemos dizer que os ditos católicos antinacionais estão imbuídos por um resquício de "moralidade" burguesa e liberal, que absolutiza todas as opções e estabelece todo o resto como ditos inimigos de Deus e da comunidade política, reimaginando a política no país mais aos moldes pseudo-medievais: não há unidade nacional coesa, não há uma instituição una que cuide de interesses da nação, como uma indústria petrolífera, simplesmente não há, o que há para esses senhores é uma moral burguesa e revolucionária disfarçada de um tradicionalismo político; mudar 500 anos de história da centralização política em troca de um mero fetiche ou de sofismas como: “a centralização é um inimigo a Igreja!” como muitos bradam.
Ainda sim, este artigo certamente não veio para polemizar os leitores, e nem sequer para prepará-los em contendas de internet, claro que não. O real intuito é simplesmente a formação de uma militância católica e nacionalista, em entender e espantar falsos fantasmas que sempre surgem na cabeça do jovem tradicionalista, como por exemplo: “como sou nacionalista e católico ao mesmo tempo?” certamente é uma indagação complexa que buscaremos resolver e buscar responder.
A FORMAÇÃO DA COMUNIDADE POLITICA
A formação histórica de uma nação, olhando do ponto de vista moderno, é a assimilação cultural que se cristalizou com os anos, através de um sentimento psicológico único, como por exemplo na invasão dos ingleses à França, que produziu um sentimento coletivo de defesa do reino, ou então em Portugal na chamada crise de junho quando as 3 classes, clero, nobreza e plebe se levantam contra o jugo castelhano que preparava um assalto ao poder e a soberania portuguesa, sendo pois contra um luso como chefe da comunidade política, e fizeram o que fizeram, mas foram parados por um exército que defendeu todo o anseio de uma nação e que não queria um estrangeiro reinando, visto que isso poderia minar o bem-estar português, sendo uma reação legitima e que obedece a lei natural de defesa da pátria, mas de uma forma mais abrangente, visto que o sentimento de uma nação inteira se volta para a expulsão de um inimigo.
A nação pois é uma comunidade histórica, e de fato natural, já que ao longo dos anos, no fervilhar na civitas, se formou esse tipo de mentalidade do interesse comum que abrange tudo aquilo que foi apresentado acima. Cabe detalhar também que a nação deve ter um símbolo comum que gere união à todos aqueles que vivem num território, alguns pesquisadores do século XIX acreditavam que isso se resume a língua, a cultura e pátria per se; sim, tudo isso é importante, mas a Legião Anchieta, seguindo o exemplo daqueles patrianovistas do século passado, crê e professa que a pedra fundamental da nação é Cristo Rei, que é o real construtor da sociedade política, como diz o padre Meinvielle e o Imperador que é o símbolo máximo da politica nacional.
A moralidade católica e o nacionalismo
Quanto a se um cristão moralmente pode ser um nacionalista, vemos certamente que em muitos lugares levantam-se objeções (e até honestas e com lógica), usando algumas encíclicas papais, como de Pio XII e seu predecessor, Pio XI, este inimigo mortal de Mussolini e de Hitler, escrevendo as belas encíclicas da Non Abiamo Bisogno e a Mit Brennender Sorge, que frequentemente são usadas pelos antinacionalistas católicos.
O que então um legionário de Anchieta deve pensar delas? Simples, fazem parte do magistério autêntico da Igreja que impõe certamente uma ordem relacionada a moral seguinte: católicos não aderem a ideologias totalitárias, e é aqui que vem a grande confusão.
Certamente, esses nacionalismos durante a história do século XX foram maléficos porque são puramente humanistas. É o homem pelo homem. O nazismo por sua vez tem eco e influências do pensamento de Fichte que era abertamente anti-católico e humanista, -via a nação alemã como uma espécie de divindade- e Mussolini com influência do sindicalismo soreliano, claramente revolucionário.
E como nós católicos podemos ver essa situação? Como podemos lutar contra o inimigo internacional sem ao menos cair no erro do humanismo que causou a segunda guerra e o massacre de milhões de pessoas inocentes? Simples! O senso temperado do nacionalismo.
S.S Pio XI escreveu uma primorosa encíclica em 1933, chamada de Caritate Christi Compulsi, sobre a crise mundial da bolsa de valores, denunciando o partido comunista e os nacionalistas (fascistas e nazistas) que “abusando do legítimo interesse do país, e enfatizando mais igualmente o sentimento de piedade devido à sua nação”, não exagera a uma afirmação burguesa e afirma “o sentimento de nacionalismo (que, de fato, a ordem correta da caridade cristã não refuta, mas a torna santa e mais viva pelas suas normas)”, ou seja, vemos claramente que Pio XI não afirma de forma certa e concreta um patriotismo defendido pelo Doutor Comum, já que a sentença em latim nem sequer cita “patriae”, mas de um nacionalismo [como a palavra nacionalismo no latim não existe, a tradução em italiano escolheu pelo nazionalismo], verdadeiramente cristão e fundamentado na caridade fraterna que a santifica.
Meus senhores, como podemos achar uma doutrina que se caracteriza na caridade fraterna entre todos no nacionalismo como na Patrianova? A caridade fraterna aqui podemos representar como uma bela rosa vermelha, que não deve ser esmagada pela mão [estatolatria nacionalista e socialista], e nem deixada ao léu sem regar, como um estado social-liberal faz. Mas não, o patrianovista católico rega, cuida bem de sua rosa e a contempla maravilhosamente.
No programa do patrianova de 1928, podemos ver a real intenção do movimento nacionalista em poucas linhas.
“Isso sem nos referirmos às eternas instituições, Igreja e Milícia. A quem alegar ignorantemente ser isso ‘fascismo’, convidamo-lo a estudar história, sociologia e política. Replicamos-lhes demais a mais, que pomos o Brasil acima dos chavões criados pela conspiração internacional dos traidores das pátrias. — É POR MEIO DO ESTADO ORGÂNICO DE REPRESENTAÇÃO PELA FAMÍLIA E O TRABALHO. Por meio das CORPORAÇÕES social-económicas e culturais (clero, magistério, forças armadas, artes liberais e mecânicas, agricultura, indústria, comércios transportes, jornalismo, radialismo, etc.) autónomas dentro da Orgânica imperial, portanto não fascistas, estatistas ou socialistas — garantir-se-á todo bem familiar, económico e cultural da Nação; sensação nos conselhos chefes de família a sua benéfica influência e representação nos conselhos municipais, pois eles, os Chefes de família, são imagem do imperador que é chefe da dinastia…”
Sendo pois uma intenção de um estado verdadeiramente orgânico restaurando as bases naturais das pequenas repúblicas que viriam a serem chamadas de municípios, de acordo com os grandes princípios católicos, contra a ira internacionalizante do capitalismo e do socialismo, sim, um católico pode defender o nacionalismo, pois esta é a verdadeira piedade nacional em tempos de crise, e contra os tentáculos de uma burocracia mundial que busca nos escravizar tanto financeiramente e moralmente, retirando os maiores prazeres que temos: sermos católicos e brasileiros.
Por fim, é oportuno lermos o que diz o douto jusnaturalista Galvão de Souza:
“O nacionalismo é uma complementação lógica e necessária do patriotismo, é a armadura do patriotismo, segundo a feliz expressão de Yves de la Brière, é o próprio patriotismo vigilante e atuante, é a defesa dos legítimos interesses nacionais contra as ameaças internas e externas de dissolução da pátria”. Com efeito, “se o patriotismo é legítimo, não menos legítimo é o nacionalismo, devidamente entendido”.
Nos cum prole pia, benedicat Virgo Maria!